Esta é a Introdução do Livro "Semiotécnica da Obervação Clínica" do Prof. José Ramos Jr.
É fundamental para a prática clínica.
Os objetivos da observação clínica são os DIAGNÓSTICOS e PROGNÓSTICOS para a consecução adequada do PLANEJAMENTO TERAPÊUTICO.
Desde que a tecnologia se aperfeiçoou e continua se aperfeiçoando, trazendo, é claro, grande progresso à propedêutica armada (cateterismo cardíaco, medida de pressões cavitárias no coração, medidas de pC02, p02 no sangue arterial e venoso, dosagem de enzimas no sangue, no suco e na parede intestinal, as provas funcionais das mais variadas naturezas, etc., etc.), houve uma preocupação dos alunos e dos médicos recém-formados, e até das escolas médicas nos seus currículos pedagógico-didáticos, na ESPECIALIZAÇAO com GRANDE DESTAQUE DA PARTE TÉCNICA ainda no curso de formação médica do profissional. Criou-se, desta forma, precocemente, a mentalidade errônea do ESPECIALISTA em determinado órgão ou aparelho do organismo, afastando-se assim da concepção real e certa de que o médico deve estudar a medicina no sentido do conhecimento INTEGRAL do corpo e da alma. Decorreram e decorrerão sempre, enquanto essa orientação perdurar na estruturação curricular e na distribuição pedagógico-didática predominantemente tecnológica das disciplinas no ensino médico, os VÍCIOS de conduta do médico, dos quais os principais são a falta de capacidade de reconhecer o doente como um TÓDO DE CORPO E PSIQUE, o não saber diagnosticar, ou no mínimo, suspeitar das alterações outras no próprio organismo provocadas por um órgão doente ou associação de "uma outra enfermidade e tratá-las adequadamente, ficando omissos ou então necessitando de outro ou outros especialistas para tratar de alterações anatômicas ou funcionais banais, no seu diagnóstico e tratamento.
A especialização deve existir, é lógico, porém, concebida no SENTIDO TECNOLOGICO.
TODO E QUALQUER ALUNO OU MÉDICO DEVE APRENDER A MEDICINA NO SENTIDO INTEGRAL E ASSIM EXERCÊ-LA, deixando a especialização para uma fase POSTERIOR no sentido tecnológico, ou, conforme a situação curricular da Escola Médica, no sentido da PESQUISA CIENTÍFICA. Pois bem, a OBSERVAÇAO CLINICA é, e continua sendo, pelos motivos sucintamente expostos, completamente DESCURADA E DESATENDIDA PORQUE A MAIORIA DOS PROFESSORES NÃO IMPRIME A CONCEPÇÃO DE SUA GRANDE IMPORTÂNCIA E RESPONSABILIDADE AOS ACADÊMICOS DE MEDICINA.
TODO E QUALQUER EXAME SUBSIDIÁRIO, ou seja, aquele que decorre da chamada propedêutica armada é, e será sempre, orientado ou solicitado pelo raciocínio resultante da análise dos elementos propedêuticos fornecidos pela interpretação fisiopatológica dos sintomas e dos sinais. Essa análise interpretativa, entretanto, depende dos conhecimentos de fisiopatologia e de semiotécnica rigorosamente bem executada, e que quanto mais completa e minuciosa, maiores serão os elementos para os diagnósticos funcionais, anatômicos e etiológicos, assim como para os prognósticos e suas modalidades, e mais ainda, mais importante e consequente, o planejamento terapêutico adequado e fundamentado em bases científicas e seguras. Pois bem, as observações clínicas na prática diária são, nos dias que correm, e o vício cada vez mais se propaga concorrendo para a diminuição do nível científico-assistencial do profissional, cada vez menos completas, cada vez menos minuciosas, as anamneses cada vez mais sucintas e "telegráficas", os exames físicos cheios de erros de semiotécnica, o que acaba, é lógico, na orientação defeituosa do raciocínio para os diagnósticos, e obviamente, para os erros tão comuns dos planejamentos terapêuticos, com o emprego desnecessário de drogas, de soros, de vitaminas, etc. etc., tudo porque não existiu prática e ênfase da observação clínica reiteradamente realçada por parte dos responsáveis pelo Ensino Médico.
A OBSERVAÇÃO CLÍNICA BEM REALIZADA, ADEQUADAMENTE COMPOSTA PELA SEMIOTÉCNICA, É A BASE FUNDAMENTAL DOS DIAGNÓSTICOS ANATÔMICOS, FUNCIONAIS e ETIOLÓGICOS, E, CONSEQÜENTEMENTE, DE UM RACIONAL E CIENTÍFICO PLANEJAMENTO TERAPÊUTICO.
A observação clínica consta das seguintes partes:
I — ANAMNESE.
II — EXAME FÍSICO GERAL.
III — EXAME FÍSICO ESPECIAL.
IV — DIAGNÓSTICOS ANATÔMICOS, FUNCIONAIS e ETIOLÓGICOS
sugeridos ou indicados e aqueles já confirmados pelas partes I, II, e III, e para CONFIRMAR ou INFIRMAR tais diagnósticos, executam-se, orientados pela observação clínica os:
V — EXAMES SUBSIDIÁRIOS ou de PROPEDÊUTICA ARMADA: radiológicos, bioquímicos, microbiológicos, parasitológicos, endoscopias, reações imunopatológicas, biópsias etc.
VI — DIAGNÓSTICOS DEFINITIVOS — anatômicos, funcionais e etiológicos.
VII — PROGNÓSTICOS.
VIII — PLANEJAMENTO TERAPÊUTICO.
IX — EVOLUÇÃO.
X — "CAUSA MORTIS".
A responsabilidade da Clínica Propedêutica corresponde ao estudo e ao desenvolvimento técnico da Anamnese, do Exame Físico Geral e Especial, que fornecerão os elementos para os diagnósticos e prognósticos.
O planejamento terapêutico será tanto mais eficiente e eficaz quanto mais ele focalize os elementos etiológicos, e na impossibilidade, os fatores patogênicos e as perturbações funcionais dos órgãos ou sistemas orgânicos afetados, devendo a chamada terapêutica "sintomática", ou seja, exclusivamente para eliminar TRANSITORIAMENTE um importante sintoma, ser considerada em nível secundário, NUNCA afastando a preocupação disciplinada e sistematizada dos diagnósticos anatômicos, funcionais ou fisiopatológicos e etiológicos.
Os prognósticos dizem respeito:
1 — "restitutio ad integram" ou "quod curationem", ou seja, a completa reversibilidade anatômica e funcional do órgão doente;
2 — "cura com defeito" quando permanecem perturbações anatômicas e funcionais com ou sem manifestações sintomáticas;
3 — "quod functionem" — é o prognóstico referente à função ou funções de um determinado órgão e as possibilidades terapêuticas para a sua cura completa, ou incompleta, ou com defeito;
4 — "quod curationem" — se existe ou não existe a possibilidade de cura completa ou com defeito;
5 — "quod mortem" — quando os elementos propedêuticos conduzem à conclusão infausta e definitiva da incurabilidade e da morte.
A "causa mortis" deverá ser minuciosamente referida para estudos futuros, para fins de comprovação necroscópica com o estudo anatomopatológico, fisiopatológico e citológico em todos os seus aspectos, principalmente para, no ambiente universitário, concorrer para a CORRELAÇAO ANÁTOMO-CLÍNICA, que constitui, do ponto de vista pedagógico, a complementação mais completa, mais instrutiva e que deveria e deverá ser a preocupação máxima do ensino da Clínica médica ou cirúrgica.
Quando os diagnósticos clínicos são suficiente e rigorosamente formulados em bases de raciocínios fisiopatológicos e de elementos semiotecnicamente bem obtidos, a CORRELAÇAO ANATOMO-CLINICA também será mais justa, racional e científica, constituindo o ponto mais alto do aprendizado e do exercício da clínica.
Os propósitos das lições que compõem este livro são, justamente, fornecer de maneira sucinta, objetiva e prática, os elementos de SEMIOTÉCNICA DA OBSERVAÇÃO CLINICA NO QUE DIZ RESPEITO À ANAMNESE, AO EXAME FÍSICO, ÀS SÍNDROMES CLINICO-PROPEDÊUTICAS MAIS COMUNS NA PRÁTICA, e somente referindo, muito sumariamente, os exames subsidiários ou da propedêutica armada.